Pulo do Lobo

domingo, dezembro 11, 2005

Vasco Pulido Valente explicado às criancinhas

O doutor Vasco Pulido Valente, cuja actividade mais vísivel consiste nas três crónicas que edita no Público, de sexta a domingo, foi duas vezes meu professor na Universidade Católica. A primeira, entre 78 e 79, precedeu a sua entrada no governo da AD, ao lado de Sá Carneiro como secretário de Estado adjunto e da Cultura. A segunda, entre 84 e 85, numa cadeira opcional intitulada, com manifesta presunção, "história das relações internacionais", destinada, no essencial, a familiarizar os eventuais interessados com a obra de A.J.P Taylor. Pelo caminho, Pulido Valente (VPV) continuava a escrever as suas crónicas um pouco por todo o lado: no Semanário, na Tarde, no Diário de Notícias, na Kapa, no Independente e, finalmente, no Público. Se alguma coisa deste percurso é para explicar ou é explicável, VPV fê-lo em dois notáveis artigos que se encontram no livro "Retratos e Auto-Retratos", de 1992. Um, o "auto-retrato aos 50 anos" ("Eu sempre fui assim") e o outro, "Sá Carneiro: os últimos anos", contam "parte" da "história" tal como ela é vista pelo autor. Depois, temos os livros. Não se pode perceber a "história" da I República sem ler "O Poder e o Povo, a Revolução de 1910" ou o "politiquês" nacional sem o magnífico "Glória", a sua última obra de "fôlego", ou o ensaio sobre Paiva Couceiro. Para além disto, VPV é, sem dúvida, o mais iconoclasta dos nossos "cronistas" contemporâneos. Tem, com a política e com os políticos da "democracia", uma bela relação de amor-ódio que vem dos tempos do "antigamente" e que passa pelo congresso do PS na Aula Magna, durante a Revolução, pelo então major Eanes, na RTP e, depois, em Belém, contra Soares, por Sá Carneiro e Soares Carneiro na AD, contra Balsemão na AD-2, com Soares no MASP-1 contra Eanes, com Fernando Nogueira em 95 e, em intermitente constância, uma aristocrática aversão a Cavaco Silva. Mais recentemente, distinguiu-se na preciosa ajuda que a sua escrita deu a remoção de Santana Lopes e de Paulo Portas. Numa entrevista a O Independente, poucos dias antes das eleições legislativas de 20 de Fevereiro, VPV defendeu, com todas as letras, que um mínimo de credibilidade das coisas impunha a escolha de José Sócrates para primeiro-ministro e de Cavaco Silva para presidente da República. Quando Mário Soares emergiu como candidato presidencial, VPV não se poupou na acrimónia, apesar da amizade e da admiração (este é o termo exacto, apesar de vir dele) que sempre nutriu por Soares. Basta ler o que escreve sobre Manuel Alegre. Finalmente veio Cavaco e, desde o "Chegou o Presidente", que sensivelmente em cada duas das três crónicas semanais, VPV se entrega à volúpia de zurzir metodicamente o "camponês de Boliqueime", como em tempos lhe chamou. O que é que "mudou" desde a entrevista a O Independente? Eu acho que nada mudou e que VPV se limita a dar livre curso à sua íntima natureza, o que em nada retira o brilho habitual das suas análises. É por isso que já aqui escrevi que ele era "citável" e "apropriável", consoante a "estação" e o interesse na citação. De Cavaco, porém, VPV já disse praticamente tudo e o seu contrário, como o fez em relação a Soares, apesar dos desvelos inequívocos por este. No livro que comecei por citar, coexistem, aliás, dois artigos aparentemente antagónicos. A um deles, "Cavaco: retrato de um português muito conhecido", recorrem com insistência os detractores mais aguerridos do ex-primeiro-ministro. Porém, colado a esse, vem "Cavaco: a culpa é minha?", no qual VPV explica, com particular lucidez, por que é que se devia renovar a maioria em 1991. Com as devidas adaptações e o devido respeito, não serão estes alguns dos motivos que justificam a "confiança" que, em 22 de Janeiro, os portugueses se preparam para demonstrar em Cavaco e, ainda este ano, desejada pelo próprio VPV? "Cavaco percebe que, num país atrasado e carente, só existe "consenso", se existir autoridade. (...) Não me envergonho dos meus preconceitos e não me coíbo (nem me coibi) de os exibir. Entre mim e Aníbal Cavaco Silva não há nada de comum: e eu gosto muito mais de mim do que dele, para ser sincero e moderado. (...) Como a esmagadora maioria dos portugueses, não tenho razões de queixa do dr. Cavaco (pelo contrário) e (...) não ambiciono passar os próximos quatro anos numa trapalhada acéfala, presidida pela inveja, pelo ressentimento e por Mário Soares. O regime de Cavaco Silva permite-me conduzir a minha vida privada, sem sobressaltos, nem acidentes públicos. Não lhe peço mais e não me propõem nada de melhor. A culpa é minha?"

4 Comments:

  • At 5:25 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Nesta altura VPV deve dizer para consigo próprio, lendo o seu post:"O aluno ainda não superou o mestre!".

     
  • At 8:36 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    O VPV adquiriu, por mérito próprio, o estatuto de irresponsável.
    Com efeito, seja o que for que diga, ninguém o leva a sério.
    Felizmente...

     
  • At 12:21 da manhã, Blogger Peliteiro said…

    VPV escreve bem, lê-se bem, sobretudo se no seguimento do "Inimigo Público".

     
  • At 6:28 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    os imconpetentes nunca xouberam faxer nada. dois exemplos. O vasco Pulido Valente foiDEPUTADA e foi corrido.UM antoniojoseteixeira, funcionario, comossarido PS foiparao DIARIO DENOTICIAS efoi corrido pelo patrao para queo jornal e os camaradas fossemparaoFundo do desemprego. Agoracomo sempre e referido incompetentelaestanaRadio do PS a BOtarpalavrasem vergonha.tenhodito

     

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