O Jogo de Ontem
Embora a previsão da derrota o tenha levado à frase mais infeliz do campeonato (os resultados finais poderão não ser "limpos"), no jogo de ontem Soares mostrou estar em forma. Por exemplo, quando respondeu ao ataque de Jerónimo de Sousa à Europa - "foi Abril que nos abriu as portas ao mundo, não foi nada a União Europeia" -, com o velho e sempre eficaz contra-ataque "Abril abriu as portas, mas se Portugal não tivesse entrado na União Europeia seria uma Albânia". 1-0. Ou quando disparou de livre directo "a China tem o pior do capitalismo, o capitalismo selvagem, e o pior do comunismo, a ditadura", obrigando a uma defesa de recurso: "nós não temos um modelo exterior". A falta que a União Soviética faz entre os postes... Quase 2-0.
Jerónimo também esteve perto de marcar nas sucessivas jogadas de envolvimento pelo flanco dos "direitos sociais", um clássico das escolas do clube. O adversário viu-se obrigado a recuar no terreno, abdicando por momentos de um ponta de lança de raiz para "defender o Governo", e chegou mesmo a cometer grande penalidade com a violenta entrada "não se pode fazer uma omoleta sem partir ovos". Mas a equipa vermelha, mais mecanizada na defesa, desperdiçou a oportunidade.
E como quem não marca arrisca-se a sofrer, o candidato socialista acabou por matar o jogo em resposta a nova jogada de laboratório. Ainda mal refeito da duríssima metáfora dos ovos, o proletariado (que, ao contrário do PS pós-modernaço, não se adapta à bloquice de ver um homem na cozinha) tentou rematar em jeito, surpreendendo quem esperava um remate em força. Canto curto da esquerda e centro para a grande área: Soares, no primeiro mandato presidencial, foi "um árbitro que muitas vezes engoliu o apito". Teria sido golo, com melhor timing. Mas o jogador-árbitro interceptou a bola (no primeiro mandato é que o PCP o apoiou), lançou o mortífero contra-ataque (no segundo não) e só parou no fundo da outra baliza. 2-0.
Percebe-se que gosta de debates. Agora pode dizer a todos "olhe que não, olhe que não"...
2 Comments:
At 6:07 da tarde, Anónimo said…
Meu Caro Pedro Picoito
Achei muito criativa a descrição que fez do debate entre Soares e Jerónimo Sousa, utilzando a linguagem futebolística, mas que dá uma ideia geral de como as coisas se passaram.
Parece-me no entanto, e também parece ser já consensual a ideia de que este tipo de "entrevistas paralelas" ou "sobrepostas" em que os candidatos respondem a perguntas alternadamente e sem se interpelarem, não são debates na real acepcção do termo, e ainda para agravar o cenário os candidatos encontram-se lado a lado e não frente a frente, como é normal quando duas pessoas trocam ou discutem ideias entre si.
Daqui resultar que de uma maneira geral os chamados debates têm sido considerados frouxos, mornos, chatos e que provocam sonolência.
Sòmente nestes dois últimos debates se notou alguma vivacidade
porque quer Mário Soares quer Francico Louçã conseguiram "fugir" um pouco ao sistem rígido imposto, e das suas interpelações directas aos adversários conseguiram fazer golos.
É por demais evidente que este formulário espartilhado favorece Cavaco Silva que não terá que se preocupar com perguntas ou interpelações directas dos adversários, podendo assim limitar-se a responder directamenre às perguntas dos jornalistas de uma maneira pausada e pensada.
Quanto a Mário Soares já seu para ver que em matéria de debates, se sente como peixe dentro de água, mais propriamente um peixe de àguas profundas, que pode num golpe de asa "ferir de morte o aversário", ressalvando naturalmente a força de expressão.
Como diz o Zé Povinho "não há pai para ele".
Ouvi esta frase algumas vezes num café onde assisti ao debate na RTP, certamente nos mesmos instantes em que o meu amigo PP, balbuciou duas vezes : golo do Marocas e disse de si para si com os seus botões, mas baixinho para que nehum amigo seu ouvisse :
Bolas que este tipo é como o vinho do Porto, quanto mais velho melhor !
Mas se assim pensou, não teve a coragem de o dizer publicamente, limitando-se a confessar que "no jogo de ontem Soares mostrou estar em forma", frase que não esconde um elogío explícito vindo de um aversário rendido à força do velho leão que nunca vira a cara à luta, da energia e vivacidade que ainda demontra ter esta animal político, uma autêntica força da natureza.!
É curioso que no dia em que fez 81 anos disse que era o mesmo que ter 18 anos, isto é os números são os mesmos, só que trocados.
Quem dera a muitos jovens de 18 anos terem a vivacidade, a clarividência, a vontade de viver e de fazer coisas que este homem tem aos 81.
Só se é jovem, quando se consegue ser jovem de espírito,e manter essa qualidade independentemente da carapaça anatómica que emoldura o nosso corpo.
Velhos são os trapos e as "múmias"!
Viva a Juventude!
At 12:11 da manhã, Pedro Picoito said…
Caro José Costa
Concordo que Soares está mais à vontade nos debates do que os outros porque é um conversador nato. Mas lembro que este modelo mais rígido não o favorece porque obriga a ter disciplina de pensamento, a preparar-se melhor, a ler os dossiers. Ainda vamos ter surpresas no debate com Cavaco. E o debate com Alegre vai ser muito feio.
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