O Outro Palácio de Belém
Desculpem insistir, mas o processo revolucionário em curso no CCB aviva-me a memória.
Quando o então primeiro-ministro Cavaco Silva decidiu construir uma coisa chamada Centro Cultural de Belém, os eternos velhos do Restelo (metáfora perfeita...) avisaram-nos a todos:
- que a cultura não vivia do betão;
- que o país não tinha vida cultural que justificasse o investimento;
- que o público não ia aderir;
- que a coisa era muito cara;
- que a coisa era muito feia;
- que a coisa ia destruir o equilíbrio urbanístico de uma das zonas mais nobres de Lisboa.
Volvidos vinte anos, o que dizem os actuais condutores dos povos, muito deles socialistas ou compagnons de route do PS?
Segundo o Público de hoje (pp. 5, 34-35 e 37), dizem o seguinte:
- que o CCB é "uma estrutura com enormes virtualidades que importa potenciar e nos últimos anos não foi devidamente potenciada" (Isabel Pires de Lima, ministra da Cultura em funções);
- que "o CCB fez aquilo que à primeira vista não se esperava que fizesse - conquistou a cidade" (Raquel Henriques da Silva, ex-directora do Instituto Português de Museus nos governos de Guterres);
- que "o apoio a jovens criadores e sobretudo a artistas nacionais de qualidade reconhecida, ajudando à sua internacionalização (veja-se a Festa da Música), tem sido feito de forma expressiva e crescente ao longo dos anos" (José Fraústo da Silva, presidente cessante da Administração do CCB nomeado por Carrilho);
- que "a infra-estrutura é excepcional, o público adoptou aquele espaço, nele tem sido possível conciliar propostas elitistas e de vanguarda com outras destinadas a públicos mais vastos" (José Manuel Fernandes, director do citado Público) .
É só para lembrar. Nos tempos que correm, muita gente faz por esquecer a década do cavaquismo. Mas ela existe. E o CCB também.
7 Comments:
At 4:01 da tarde, Anónimo said…
Desculpem insistir, mas o Pedro Picoito, no que diz respeito a matérias de cultura, só consegue falar do CCB. Ainda por cima citando, entre outros, o director do jornal Público que transforma a sua imparcial profissão numa apologia cavaquista. Volto a colocar as mesmas dúvidas. A cultura para Cavaco foi só o CCB? Sim, sem dúvida. Porque todo um trabalho de construção de infra-estruturas culturais, semente de um desenvolvimento nesta área, foi esquecido. Nessa década que não queremos ver repetida, a construção existiu, mas foi de auto-estradas, de betão. E mais uma dúvida se mantém. Este estado de coisas na educação e na cultura beneficia quem? Talvez os candidatos que fazem do não dizer, da humildade serôdia e do subir a pulso uma forma de vida.
At 4:18 da tarde, Manolo Heredia said…
O CCB, A Expo, A ponte da CP "Edgar Cardoso" no Porto, a Casa da Música, são obras de fachada feitas para derrapar e com isso financiarem partidos e fortunas pessoais.
Mais tarde verifica-se que também podem servir para outras coisas!
At 6:40 da tarde, Anónimo said…
A década do cavaquismo podia ter sido melhor. Mas foi muito boa! Permitiu a este País entrar no séc. XX mesmo a tempo!
Compete agora a Sócrates tarefa equivalente. Conseguirá, ou não? Aqui, Cavaco pode ter um papel catalizador. Tudo depende de ele e Sócrates formarem equipa... ou não!
Sócrates é o Cavaco de 86, cheio de arestas. Só me resta apostar na maturidade de Cavaco... E seja o que Deus quiser...
Vitor Correia
At 10:40 da tarde, Anónimo said…
Caro Sérgio, quando termina a sua argumentação com: ..."da humildade serôdia e do subir a pulso uma forma de vida."..., fico com algumas dúvidas, quanto ao que considera a melhor forma de vida (de forma honesta, quero dizer).
At 9:23 da manhã, Anónimo said…
Não consigo responder a anónimos. A falta de frontalidade é em si mesma um indício...
At 9:43 da manhã, el s (pc) said…
Não se podia ter construído o CCB a custar o que estava no projecto e não quatro vezes mais? O problema não é o CCB em si, mas a forma como o projecto foi elaborado e concretizado.
At 1:12 da manhã, Gabriel Silva said…
Tudo verdade. Ainda hoje:
- que a cultura não vive do betão;
- que o país não tem vida cultural que justificasse o investimento;
- que o público não adere;
- que a coisa é cara;
- que a coisa é feia;
- que a coisa destruiu o equilíbrio urbanístico de uma das zonas mais nobres de Lisboa.
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