Declaração de voto, por Zélia Gil Pinheiro
Uma pequena viagem no tempo para explicar porque voto Cavaco. Comecei a minha vida adulta no final dos anos 80. A democracia era um dado adquirido. Entrava-se numa nova fase da "vida nacional". Havia confiança, emprego, optimismo e respiravam-se ares de modernização: privatizações, boom da comunicação social, rádios e televisão privada. Os antigos cafés fechavam, mas abriam outros, e também bancos e centros comerciais. Faziam-se auto-estradas e projectava-se o Centro Cultural de Belém. Democratizava-se a cultura e o turismo, até aí reservadas às elites. Chegavam os cinemas multiplex e acabava o império do Quarteto. Apareciam os ambientalistas e uma nova industria de entretenimento. Foram os tempos áureos do cavaquismo. O lema era "sair da cauda da Europa". Nada disto se deve a Cavaco, ou só a Cavaco, como é evidente. Mas em parte também se deve a Cavaco.
Foi em 94, se a memória não me falha, que Cavaco decidiu não aprovar o habitual despacho que determinava a tolerância de ponto no dia Carnaval para os funcionários públicos. O Carnaval, ao contrário da Páscoa, do Natal ou do dia da Restauração da Independência, não consta da lista de feriados obrigatórios. Cavaco arriscou romper com a "tradição consolidada", todos os anos invocada para publicar o despacho que oferecia mais um dia de férias e a possibilidade de uma oportuna "ponte". Julgo que terá sido da mesma altura a tentativa de colocar o País no fuso horário continental. O objectivo era permitir mais facilidade nos contactos com as empresas na Europa e, nomeadamente, em Espanha. Os protestos às duas medidas foram imensos. Mas estes gestos, embora falhados, simbolizaram uma coragem para a ruptura com hábitos de decadência instalados. E eles existem.
É disso que precisamos. É uma questão de perfil. Não precisamos de políticos fixes. A Conversa não tem nada a ver com a Política. Não há jackpot do euromilhões para os países. Por isso eu voto Cavaco.
Zélia Gil Pinheiro
Zélia Gil Pinheiro
18 Comments:
At 6:37 da tarde, Anónimo said…
Ele nem precisa do Euromilhões...
Um prémio mais do que Nobel, para um economista mais do que razoável.
(desconhece-se a teoria económica que lhe deu origem).
(Contos Proibidos – Memórias de um PS desconhecido. Rui Mateus)
A partir da sua eleição em Genebra, em 1976, os vice-presidentes da Internacional Socialista Bettino Craxi e Mário Soares estabeleceriam uma relação de grande amizade pessoal. Um tipo de relacionamento descontraído, comum a pessoas com gostos e pontos de vista semelhantes.
O PSI tinha ajudado bastante a Acção Socialista através de Tito de Morais, que vivera exilado em Roma, mas, depois do 25 de Abril esse apoio seria relativamente modesto.
Assim, eu seria surpreendido quando Mário Soares informou que a situação mudara e que o seu cunhado e eu nos deveríamos deslocar a Milão no dia 15 de Setembro de 1977, a fim de receber uma considerável quantia de dinheiro.
Naquele dia, Fernando Barroso e eu teríamos à nossa espera um dos assessores de Craxi para assuntos financeiros, Ferdinando Mach, que nos levaria numa agradável viagem de carro à cidade de Lugano na Suíça, onde nos seria entregue aquele dinheiro.
Meio milhão de dólares que deixavam o partido numa situação desafogada.
Nunca me foi dito qual a razão dessa generosa dádiva e nem a mim me competia fazer quaisquer “investigações”. A angariação de fundos era e é da exclusiva responsabilidade do secretário-geral do partido e eu, apesar de ser secretário nacional do PS, considerava-me, em questões não relacionadas com as minhas funções políticas, um mero “correio” que obedecia a instruções superiores.
…
Tivesse eu questionado Mário Soares naquela data, sobre assuntos desta natureza e ser-me-ia dito tratar-se de assuntos que não me diziam respeito. Pior, no voltar da esquina perderia o lugar no Secretariado, sem apelo nem agravo.
Aliás era o domínio sobre estas matérias que garantia o poder no PS e todos sabiam muito bem que Soares tinha uma “poderosa rede de influências sobre o aparelho de Estado através da colocação de amigos fiéis em postos-chave, escolhidos não tanto pela competência mas porque podiam permitir a Soares controlar aquilo que ele, efectivamente, nunca descentralizará – o poder”.
Mas embora não fizesse perguntas existiam aspectos que entravam pelos olhos dentro e que seria quase impossível ignorar.
…
Notas sobre Bettino Craxi:
Craxi foi a figura central do processo “Mãos Limpas”, que agitou a política italiana a partir de 1992.
Provadas que foram as acusações de ter recebido milhões de dólares de subornos de empresários, foi condenado pelos tribunais italianos a um total de 27 anos de cadeia pelo envolvimento em vários casos de corrupção e subornos, entre os quais ficaram célebres o escândalo de ter recebido subornos da companhia de seguros SAI para vencer um diferendo com a companhia estatal de energia – ENI (actual accionista da Galp), e o caso em que recebeu subornos para si e para o PSI como pagamento de influências a favor de empresas envolvidas na construção do Metro de Milão.
Antes do julgamento evadiu-se para a Tunísia em 1995, onde viria a morrer em Novembro de 2000, e onde receberia a visita de solidariedade de Mário Soares.
At 10:40 da tarde, Anónimo said…
Senhora D. Zélia tenha tino e não seja passionária!
At 10:45 da tarde, Anónimo said…
Eu sou anti-soarista, mas ao ler isto tenho de dar razão aos soaristas. A autora teria razão se se tratasse da eleição do Cavaco para substituir a anedota do Sócrates, mas revela um completo absurdo de raciocínio no contexto que está em causa, o de uma eleição presidencial. Até o Pateta preceberia a diferença!
At 11:25 da tarde, Anónimo said…
Utilizar o nosso fuso horário nada tem de decadente. Os contactos comerciais fazem-se sem problemas, mesmo com o "outro lado" do mundo -- a diferença de uma hora com a Europa continental é irrelevante.
At 11:30 da tarde, Anónimo said…
Bem lembrado. Acabar com a festa do Carnaval , dia bom para turismo, é optimo para a economia do pa´si. Só mesmo um grande economista para ter ideias brilhantes.
At 3:46 da manhã, Anónimo said…
Isto não vem a propósito mas eu andei uns tempos sem ler blogues não oficiais de apoio a candidaturas à presidência da república e cheguei à conclusão que o super mário é mau, mas o pulo do lobo é de longe o mais chato.
Em quê? Quinze posts? Apenas um se aproveita - sim, o da papaia!
Dos outros catorze que li, dez andam na linha da mediocridade - o que não é de estranhar vindo de um blog de apoio a Cavaco Silva - e os outros quatro são simplesmente maus ("Declaração de voto, por Zélia Gil Pinheiro" - somebody shoot me! -; "Ouro, incenso e mirra" - e o que é que isso nos interessa?! -; "O medo" - Ok, este não foram vocês que escreveram... Espera aí, por acaso até foram! -; "Debate político" - por amor de Deus, não apoiem parvoíces das quais até o vosso candidato se arrepende de dizer.)
P.S. O Dr. Pacheco Pereira também escreve no blog ou só dá apoio moral?
At 4:09 da tarde, Arrebenta said…
Um Bom Ano de 2006 a todos os colaboradores e eleitores deste blogue, que está do outro lado da minha barricada.
Saudações cordiais e democráticas :-)
At 4:22 da tarde, Anónimo said…
Mas quem é .. Zélia Gil Pinheiro ?
A avaliar pela indigência da argumentação só pode ser alguma parente ? ...ou pessoa muito próxima ou do círculo de amigos de um tal Paulo Tunhas ou ... Pedro Picoito... ou quem sabe até se... um deles ...ou os dois em parceria...com um segundo "nick name", só para despistar o pessoal.
Resta-nos aguardar que 2006 ilumine, de uma vez por todas, algumas mentes um tanto "cinzentonas", que persistem
em calcorrear os caminhos mais e tortuosos e enviesados do raciocínio lógico, para atingir as suas tão almejadas certezas e postulados.
Até quando abusareis P. Tunhas e P. Picoito da nossa paciência ...?!
Parafraseando Cícero numa das suas vigorosas Catilinárias, poderei também eu perguntar :
"Quousque tandem abuteris "Paulus" et "Petrus" patientia mea...?!"
At 6:01 da tarde, Anónimo said…
Quem ler este post deve acreditar que o Portugal dessa altura era realmente maravilhoso e até deve estranhar porque Cavaco saiu...já que o que só fez de mal em 10 anos foi não conceder o feriado do Carnaval.Quem ler este post deve ficar também admiradíssimo com o simplismo da análise política.Quem ler este post...
At 6:45 da tarde, Anónimo said…
Uma espectacular colecção de baboseiras...
Cavaco é responsável pelo cinzentismo empertigado e novo-rico que conduziu o país até onde ele está.
Não venham com tretas: a terça-feira de Carnaval foi a única ideia originasl do cavaquismo!
At 5:35 da manhã, Anónimo said…
Este Post mesmo não sendo brilhante suscita alguns comentários interessantes. Destaco o primeiro e, depois, com algum sentido de humor, o do André Militão, sobre as suas preferências e estados de espírito. Aparte: Concordo que o período designado de "Cavaquismo", embora não tenha resolvido todos os problemas do país, trouxe uma lufada de ar fresco, de confiança e de esperança que muito contribuiu para o desenvolvimento socioeconómico de Portugal e para a auto-estima dos portugueses.
Afinal Cavaco, apesar dos seus inúmeros méritos (e alguns defeitos, como todos nós), não é um mágico da política (como o Mário Soares parece fazer crer, a respeito de si próprio)... Quanto à qualidade dos blogs: André Militão, sejas bem-vindo a este nosso humilde blog (desculpa lá o tratamento por tu!). Acredito, sinceramente, que os teus futuros comentários o vão tornar bem mais interessante e divertido. Mas, repara bem: a capa do Super-Mário não é a do Super-Homem, mas sim a do Capuchinho Vermelho. E nós, apesar de "lobos", ou talvez "lobitos", não somos más pessoas. Por isso deixamos que o Capuchinho Vermelho (disfarçado de Super-Mário) leve a merenda ao avô (o Mário Soares), que bem precisado está de algum alento neste epílogo existencial. Nós, os "lobos", podemos ser chatos, mas deixamos que pessoas divertidas como tu derramem aqui os seus eloquentes comentários. Já reparaste que os "sisudos" do Super-Mário ainda escrevem pensando que estão no período pré-cavaquista, ou seja, numa via de sentido único, sem contraditório ou sequer um "comentariozinho". Nós, pelo menos, já conhecemos as auto-estradas da informação (pós-cavaquistas), interactivas, abertas ao pensamento livre, o nosso e o dos outros, incluindo o teu, claro está! Alegoria do "problema activo": Imagina o mundo dividido em duas colunas - a dos problemas e das ameaças; a das soluções e das oportunidades. Nós, os portugueses, contribuímos fortemente para o preenchimento da primeira coluna e esquecemos que, mesmo ao lado, mora a vizinha mais alegre e divertida. Para cada problema e ameaça existem sempre várias soluções e oportunidades. Por isso, mais do que lamentações, é necessário começar a treinar para vencer o fatalismo (aliado dos problemas e das ameaças). Eu, por exemplo, dentro deste espírito de treino activo, gosto de sentir à esquerda e de pensar à direita. Depois, procuro fazer com que o coração interaja com o cérebro. O resultado nem sempre é garantido, mas o "jogo" é muito estimulante. O desafio é não ficarmos deprimidos e irmos à luta, sem dar nenhum nó cego!!! Continua a visitar-nos e, já agora, que sintas o apelo de votar em Cavaco Silva no próximo dia 22 de Janeiro (se não for por mérito do Pulo do Lobo que seja, principalmente, pelo valor do candidato). Caso contrário, faz o favor de ser feliz em 2006, e nos anos que se seguem.
At 3:48 da tarde, Pedro Picoito said…
Excelente declaração de voto.
At 9:25 da tarde, Anónimo said…
Eu voto Jerónimo!!!
At 9:26 da tarde, Anónimo said…
Eu voto Jerónimo!!!
At 1:23 da tarde, Anónimo said…
Boa Zelinha,
grande entrada na blogosfera! Era bom que continuasses.Bjs ITP
PS: a todos os ignorantes: a Dra. Zélia Pinheiro foi uma das melhores jornalistas do Independente e é actualmeente uma excelente advogada.
At 2:55 da tarde, Anónimo said…
Boa Zelinha,
grande entrada na blogosfera! Era bom que continuasses.
Bjs ITP
PS: Aos mais distraidos: a Dra. Zélia Pinheiro foi uma das melhores jornalistas do Independente e é actualmente uma excelente advogada.
At 5:58 da tarde, Anónimo said…
A Dra. Zélinha Pinheiro (uma das melhores jornalistas do Independente e notável jurista na actualidade) é bem a amostra sociológica dos votantes no Cavaco. Para ela, que considera uma das grandes realizações do Cavaquismo, quiçá a maior, o CCB (onde nunca entrou, a não ser para jantar no restaurante), acabar com o "Império Quarteto" foi um feito. Fique a saber, cara ex-jornalista do Independente, que o Quarteto foi o responsável pela divulgação em Portugal das mais importantes obras da cinematografia mundial, dando a conhecer todos os filmes que os outros cinemas nunca exibiam. É normal que a Dra. Zélinha adore os "multiplex", onde já papou todas as "Academia de Polícia" e quejandos, atulhada de pipocas e coca-cola, depois de passar o dia inteiro a passear nos centros comerciais que o cavaquismo nos trouxe como grande desígnio nacional e realização cultural. Haja paciência para tanta baboseira e para este deserto mental onde a Dra. Zélinha, o Aníbal Cantamissa, a Maria Cavaca e os outros parolos se passeiam.
F. Kafka
At 4:30 da tarde, Anónimo said…
O comentário de ZP (Dra. Zélinha, I presume) é bem elucidativo do que nos espera se o Cavaco for eleito. De facto, ontem na SIC e respondendo a uma questão sobre a sua alegada falta de cultura, o Cavaco respondeu que segundo a definição do Google.... O mundo abriu a boca de espanto. O que é o o Cantamissa queria dizer com aquilo de definição de cultura do Google ? . Então, o homem quando quer saber o que é cultura (preparando-se, obviamente, para a previsível pergunta) consulta o Google ? É de rir à gargalhada. Quanto à própria nefelibata e vestal do culto cavaquista, Dra. Zélinha, acha que o cinema de qualidade, ou artístico, está reservado à tal elite pseudo-iluminada - o que quer que isso signifique, nessa espécie de português a pontapé que os cavaquistas falam. É com todo o prazer que informo a Dra. Zélinha que antes de existir cinema "mainstream", todo o cinema foi independente, como qualquer pessoa minimamente cultivada (que não no Google)sabe. Portanto, é o cinema comercial que nasce do cinema independente, e não o contrário. Percebeu Dra. Zélinha. Quanto às pipocas (ou ao bolo-rei, que para o caso tanto faz)são um complemento do vácuo mental de quem não pode assistir a um filme, ou a outra manifestação artística, sem atulhar a boca de comida. Cultive-se Dra. Zélinha. Leia livros, aprenda a falar e a escrever português, seja ambiciosa, ilustre os seus pergaminhos, abandone o Cavaco.
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