A Solução
Em Moscavide, aqui bem perto de mim, um devoto de Soares lamenta o atraso nas sondagens e conclui piedosamente - "o povo não merece o sacrifício do doutor".
Estou de acordo, ninguém merece ser assim sacrificado.
Lá dizia o Brecht:
"não seria mais simples para o Governo
dissolver o povo
e eleger outro?"
Estou de acordo, ninguém merece ser assim sacrificado.
Lá dizia o Brecht:
"não seria mais simples para o Governo
dissolver o povo
e eleger outro?"
3 Comments:
At 4:36 da tarde, Anónimo said…
De Mário Soares, o seu "staff" que, tal como as moscas, só elas mudam.
Agora temos a nova versão de Presidências Abertas, travestidas de Presidências de Proximidade.
É bom que não fique no esquecimento o que este "figurão" inventou:
(Texto publicado na "Grande Reportagem" em Abril de 2002)
O PRESIDENTE QUE GOSTAVA DE JORNALISTAS
"As presidências abertas foram construídas para dar visibilidade ao dr. Soares e para desgastar Cavaco Silva", diz Estrela Serrano em declarações à GR.
A hoje directora do departamento de jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social descreve a assustadora homogeneidade com que os repórteres seguiram sem desvios os temas e enquadramentos propostos pelo chefe de Estado nessas campanhas, mesmo quando elas se transformaram num combate indisfarçável ao governo legítimo da nação duas vezes eleito por mais de 50% dos votos.
O principal garante do respeito pelo escrutínio popular patrocinava assim manifestações e protestos que se desenrolavam a par e passo das suas cerimónias oficiais enquanto presidente da República, com improvisações organizadas e bandeiras negras que emergiam por entre o normalíssimo funcionamento das instituições democráticas e sem ameaça visível no horizonte para além do ruído mediático acerca de uma misteriosa ‘ditadura da maioria’ que ninguém percebia onde é que estava.
Esta lógica alcançou o auge na peregrinação à volta da Área Metropolitana de Lisboa, entre 30 de Janeiro e 15 de Fevereiro de 1993, um ano e três meses após a segunda maioria absoluta do PSD e num ambiente em que a guerra entre Belém e S. Bento atingia proporções de comédia com a hipótese de dissolução da Assembleia da República.
Ao longo de duas semanas agricultores, estudantes, moradores, sindicalistas, desempregados, ambientalistas esperavam Soares e este era informado com antecedência da sua presença.
Os assessores alertavam os jornalistas para não perderem esses momentos, a segurança encarregava-se de lhes abrir passagem até junto do primeiro magistrado da nação e este não iniciava os seus discursos sem estar rodeado dos repórteres. O staff presidencial combinava encontros informais entre o chefe de Estado e os media e se os enviados dos órgãos de comunicação social considerados mais influentes não solicitavam uma conversa privada com o inquilino de Belém eram os assessores que tomavam a iniciativa de a sugerir para se certificarem de que a perspectiva do jornalista não era desfavorável a Soares.
"A proximidade e o convívio existente entre os jornalistas que acompanhavam o Presidente e os assessores permitiam que estes se apercebessem das reacções dos jornalistas a determinados eventos ou palavras do Presidente e o informassem de que era necessária uma sua intervenção no sentido de um enquadramento favorável, que surgia então como natural", escreve Estrela Serrano.
Soares começava o dia a ler o Diário de Notícias e o Público e de 24 em 24 horas era informado pelo seu staff da cobertura total que estava a ser feita. À hora dos principais telejornais a caravana parava, mas quando isso não acontecia a equipa do chefe de Estado gravava-os em vídeo para serem vistos à noite de modo a avaliar o impacto dos acontecimentos e se fosse caso disso introduzir correcções de estratégia. "A leitura dos jornais e o facto dos autores das notícias se encontrarem quase permanentemente junto do Presidente e dos assessores facilitava o controle de desvios ao discurso oficial", escreve Estrela Serrano..."
(nota - Estrela Serrano era assessora de imprensa do presidente Soares)
At 2:54 da tarde, JD said…
É notável a desonestidade intelectual com que se apropria de um dito de Brecht. Algum dia lhe passou pela cabeça o que Brecht pensaria se soubesse que os seus aforismos são utilizados na argumentação de uma candidatura como a de Cavaco?
At 11:09 da tarde, Pedro Picoito said…
João Delgado, pensava que me seria permitido citar qualquer autor. Chama-se a isso liberdade. Se não gosta, o problema não é meu.
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