Pulo do Lobo

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Presidente Cavaco

Dez anos depois, no passado domingo, Aníbal Cavaco Silva desceu as escadas do número 13 da Travessa do Possolo como Presidente eleito de Portugal. A sua eleição teve um significado pedagógico importante. Cavaco sofreu uma derrota e não desistiu. Esperou metodicamente por esta vitória. É curioso que tenha sido um homem da não esquerda a dar este exemplo de paciência democrática. A sua eleição pôs termo à falaciosa e fantasiosa ideia de que determinadas funções do Estado têm donos. Não têm. Têm eleitos. Todavia há sinais de que muita gente persiste em não deixar entrar o mundo na sua formosa cabeça. Ilustres catedráticos falaram em “despromoção” do lugar presidencial, anónimas e semi-anónimas luminárias abespinharam-se contra o “rústico” vencedor e o conselheiro Acácio de Mário Soares, Vitor Ramalho, chegou mesmo a afirmar que os portugueses se enganaram na análise da realidade. Ouve-se isto e percebe-se, pelo menos parcialmente, por que Soares acabou como acabou, às mãos do seu equívoco político e dos seus cortesãos. A vitória de Cavaco foi a derrota deste insuportável paternalismo jacobino e dos propósitos de infantilização do eleitorado através das ameaças, dos sustos e dos insultos. A sobranceria das esquerdas acerca de tudo e de todos, particularmente em matéria de subtileza "cultural", teve a resposta que merecia. E o voluntarismo revanchista de outros, tais como Santana Lopes ou Miguel Cadilhe, também. Quatro criaturas fizeram do combate a Cavaco Silva o respectivo programa de candidatura, alternando apenas no primarismo, na "imaginação" e no "tempo" de apresentação desse programa. Muitas vaidades e muitos preconceitos foram ultrapassados no domingo. Numa eleição presidencial, perde-se ou ganha-se absolutamente. Cavaco ganhou absolutamente. Todos os outros perderam absolutamente.


Adenda: Publicado no Independente. Esta prosa encerra a participação no Pulo do Lobo. Missão cumprida.

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