Pulo do Lobo

quarta-feira, novembro 16, 2005

O anti-ideólogo

O DN, numa referência a este blog, definiu Pacheco Pereira como um «ideólogo do cavaquismo» (link não disponível). Acredito que o jornalista em causa tivesse as melhores intenções e que o dístico encerre uma tentativa insuspeita de reconhecimento. Mas há um problema de fundo: considerar o «cavaquismo» uma ideologia quando um dos traços identitários da matriz política de Cavaco Silva é precisamente a ideia de um «anti-ideologismo». A própria imagem que Cavaco projecta, de competência técnica, gosto pelo rigor e pelas contas que batem certo, síntese geral de um pragmatismo judicioso, é radicalmente contrária a esta suposição.
Passo a explicar: Cavaco não foi e nunca será um político prêt-à-porter. Não traz soluções decoradas e coligidas em manual. Não tem cartilha nem anda com livros-de-bolso. Cavaco não é um ideólogo. As ideologias são por natureza perigosas. Quando os ideologues chegaram ao poder no séc. XVIII a guilhotina passou a decidir pelo Parlamento. Hoje já ninguém corre o risco de morrer guilhotinado mas as ideologias continuam perigosas. Tendem a cristalizar-se e a perpetuar o erro quando a acção política dos novos tempos vive fundamentalmente da capacidade de adaptação. Cavaco Silva sabe disso. Da mesma forma que o alfaiate que veste à medida, a cada problema concreto e singular deve corresponder uma solução conforme e actual. A política moderna não vive de uma solução ideal para os diferentes problemas que afectam as sociedades humanas. Não existem soluções ideais nem receitas a priori para todos os males do Mundo. Existem várias soluções, determinadas pelo tempo e pelas circunstâncias, e é o pulsar de cada momento que determina a orientação concitadora de esforços para o agir político.
A recusa das ideologias e do idealismo em geral é a atitude mais certa perante a ganância cega dos que querem acertar sempre. Não sou eu que o digo. É o século XX. E nestas eleições, Cavaco parece ter sido o único a perceber a moral da história.

8 Comments:

  • At 9:29 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Caro Tiago Geraldo, penso exactamente o contrário daquilo que escreve. Aliás, todo o seu comentário é assustadoramente naive. Aquilo que melhor caracteriza os políticos actuais é a capacidade de adaptaçao que refere , vulgarmente conhecido por "jogo de ancas".O facto de fulano ou sicrano ser ou nao um ideólogo nao sacraliza ou dessacraliza a sua relaçao com o eleitorado. Antes pelo contrário. A apresentaçao de um manifesto eleitoral sempre que alguém se "oferece" ao serviço público traz os ideólogos ou os pragmáticos para o chao terreno. A recusa das ideologias como atitude mais certa que refere é patética e perigosa. Normalmente conduz ao nihlismo de massas que facilmente descamba em violência urbana. Fora o seu comentário mais contido e perderia um pouco mais do meu tempo mas assim terminarei pedindo-lhe que se aconselhe amiúde com quem já viveu mais do que o que leu.

     
  • At 9:48 da manhã, Blogger Pedro Sá said…

    Se há coisa que toda a gente tem são ideologias. Esse seu post é um disparate pegado.

     
  • At 11:13 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    "As ideologias são por natureza perigosas"
    As ideias também.
    Não pensem.

     
  • At 11:45 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    "Mas há um problema de fundo: considerar o «cavaquismo» uma ideologia quando um dos traços identitários da matriz política de Cavaco Silva é precisamente a ideia de um «anti-ideologismo»."

    Desde quando é que o «anti-ideologismo» não é uma ideologia? Essa é boa! Pergunte a Pacheco pereira que com certeza ele sabe melhor...

    "Cavaco não foi e nunca será um político prêt-à-porter. Não traz soluções decoradas e coligidas em manual. Não tem cartilha nem anda com livros-de-bolso."

    Não traz soluções decoradas? Então o que são as recomendações de políticas contra-cíclicas que ele fez há 2 ou 3 anos? Não é uma aplicação directa da cartilha económica keynesiana? Já leu o manual de macro-economia escrito por cavaco Silva? Que é isso se não um livro de bolso com receitas macro-económicas?

     
  • At 1:20 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    existe uma tradiçao, designadamente no pensamento anglo-saxónico de uma disposiçao anti-ideologica. nao sei se cavaco se integra ou nao. como parece ter evoluido bem, pode ser que sim e o seu post terá toda a razão.

     
  • At 1:23 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    ai os liberais... sempre meninos de sistemas e multiplas razoes...
    sr. LAC, veja se se aconselha melhor que essa sua cartilha já deu o que tinha a dar

     
  • At 1:42 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    NINGUÉM CORRE O RISCO DE MORRER GUILHOTINADO»???? e se o LOUÇA fosse para lá??? ele e o ROBESPIERRE sao muito parecidos... na fala e no tacto.....

    Carlos G.

     
  • At 1:55 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Luís Gomaria
    Não percebi a sua réplica.

     

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