Pulo do Lobo

quarta-feira, novembro 30, 2005

Xbox

Sou, desde as sete horas da tarde do dia 17 de Outubro de 1979, absoluta e, para ser vulgar, religiosamente ateu. Desde esse momento, para mim Isto Tudo são única exclusivamente forças de van der Waals e assim e absolutamente mais nada.

A professora da catequese, a fascista, oprimiu-me a orelha por eu defender a liberdade individual de cada uma das folhas do livro de catequismo para esse ano (que entretanto tinham decidido descolar em voo planado para o topo de uma nespereira das imediações). Lembro-me, vagamente, de umas ovelhas a subir um monte (atrás do qual eu já tinha arranjado tempo para desenhar um leão esfomeado, mas em forma de garfo) e de uns ensinamentos que não achava descabidos.

Por alguma razão, e não obstante os excelentes aviões que aquele papel proporcionou e os sábios ensinamentos neles contidos, achei-me na razão e no direito de iniciar aí o meu ódio quer ao endoutrinamento (sob qualquer disfarce) quer à classe docente (em qualquer disfarce).

Vejo hoje com clareza o erro que cometi. Sendo o propósito da vida uma pessoa divertir-se, melhor húmus para a diversão não existe que os programas escolares ou religiosos e para a brincadeira estão para nascer melhores aliados que os professores. É tudo uma questão de perspectiva e inteligência. Faltou-me a segunda para atingir a primeira. Tudo, quero crer, por causa daquele puxão de orelhas (sim, que sou uma vítima).

Vem isto tudo a propósito de eu estar aqui à espera de um telefonema. Enquanto esperava, lia o super-pedro-adão-e-silva. Penso que o super-adão-e-silva fala bem mas não tem razão.

O professor doutor Aníbal Cavaco Silva pode ou não ser a favor ou contra a presença ou não de crucifixos numa qualquer sala de aula de uma qualquer escola pública portuguesa: se nunca ninguém o ouvir abrir a boca sobre isso estará a proceder muito bem. Para lém do mais, a questão é bloguisticamente aborrecida e, já se viu aquando do caso francês, no final tudo se resumirá ao extremar de posições até que a ausência de nuance abocanhe qualquer lampejo de inteligência ou interesse.

A minha mãe, com a mesma falta de estratégia que o Super-adão quer para o futuro Presidente da República, achou sensato confrontar-me com as grandes e aborrecidas dúvidas da vida em tão tenra idade, pricipalmente, sem eu ter pedido ou questionado nada de forma fundamental. Ganhou o que no fim talvez fosse inevitável, mas com uma dose de todo dispensável de radicalismo e, o que é pior, infinita estupidez.

O professor doutor Aníbal Cavaco Silva sabe reconhecer uma questão complexa quando vê uma, e, como deve, enquanto pode foge delas a sete pés. Claro que como quem precisa de recuperar nas sondagens é o Doutor Mário Soares e isto não passa tudo de jogatana pré-eleitoral, os seus apoiantes confundem prudência, inteligência táctica e bom governo das opiniões públicas com o que lhes dá mais jeito, no caso, a tomada das escolas pelo Vaticano. Sucede que isto não é um jogo para a Playstation.

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