Pulo do Lobo

terça-feira, dezembro 27, 2005

Nas Palhas de Belém Esquecido

Há que reconhecer que não se tem falado muito de cultura na campanha presidencial, a não ser que pelo nome entendamos as estimáveis odes do Quadrado ou o francês e o piano do dr. Soares. Tirando esta iniciação aos clássicos, nada se disse até agora sobre o que pode vir a fazer um Presidente ou o que já fizeram os candidatos em tal matéria.
Daí o interesse da entrevista que a Ministra da Cultura deu ao Expresso na última Sexta-feira. A páginas tantas, como é da praxe, Isabel Pires de Lima queixa-se de que "o desinvestimento na área da cultura durante décadas foi enorme - estamos confrontados com equipamentos em degradação, fechados, incapacitados". A crítica, com a longa farpa do durante décadas, destinava-se talvez a todos os governos da República desde António Ferro. Sim, sim, mesmo aos do PS e até mesmo (I presume) aos do dr. Soares. Nada de novo: a célebre escassez de meios é um lugar-comum de quem ocupa o lugar. Para meu espanto, contudo, a Ministra declara um pouco à frente que o CCB "é uma estrutura extraordinária, a estrutura com mais potencialidades existente em Portugal no campo das artes, embora precise de saber explorar de uma forma eficaz essas potencialidades".
Confesso que fiquei baralhado. O CCB? O Centro Cultural de Belém? Aquele monstro de betão que muita gente no partido do dr. Soares classificava de megalomania, elefante branco, prioridade absurda? Então agora o problema reside em não saber explorar eficazmente as suas extraordinárias potencialidades? E o desinvestimento não tinha sido durante décadas?
Só depois me lembrei. O CCB foi construído durante as últimas décadas, está certo. Mas na década errada: a dos governos de Cavaco Silva.

7 Comments:

  • At 1:54 da manhã, Blogger zazie said…

    ":O))
    desde a Exposição do Mundo Português que não havia uma coisa assim

     
  • At 9:39 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Depois de muito procurar, procurar, procurar, o Picoito conseguiu finalmente encontrar qualquer coisa que o cavaco fez na cultura. O que o Picoito não sabe é que a cultura não se faz só de ccb's. Questões como a promoção da leitura, área fundamental no combate à iliteracia, em que as bibliotecas públicas desenvolvem um esforço notável, ou a criação de uma rede de teatros com condições exemplares, passam-lhe ao lado. Se calhar porque convém. Convém que os níveis de iliteracia se mantenham baixos para que os candidatos cavacos possam sonhar ser eleitos...

     
  • At 9:17 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    ..."Convém que os níveis de iliteracia se mantenham baixos para que os candidatos cavacos possam sonhar ser eleitos..."
    Não, não me lembro de o Cavaco Silva ter querido acabar, com os exames de Português.
    Amigo Sérgio, dê uma ajudinha; a memória já não é como antes...

     
  • At 9:45 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Convinha que no Pulo do Lombo se lembrasse que, na tal década errada, não se fez apenas o CCB. Fez-se, por exemplo, a Comissão Nacional dos Descobrimentos, a Torre do Tombo, o Instituto Camões, a Fundação de Serralves, a Europália 94. Lançou-se a Expo'98, contratando para o efeito, entre outras pessoas, António Mega Ferreira. Colocou-se Eduardo Prado Coelho em Paris e Eduardo Lourenço em Roma, como conselheiros culturais. Encheu-se o Teatro Nacional D. Maria II de espectadores. No TNDM vale a pena lembrar, aliás, que esteve por director o Ricardo Pais -- nomeado exactamente pelo doutor Cavaco, como todos os outros. Deu-se vida, como nunca mais tiveram, aos museus e palácios nacionais. Quanto à rede de leitura pública, o que se fez chegou para que Carrilho (o Manuel Maria, não o Diniz) fosse obrigado a reconhecer, em público, que não tinha de mudar nada, tinha apenas de continuar. O que, por acaso, não sucedeu. Digo eu. JV

     
  • At 11:57 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Ó caro Amigo! Então não foi essa obra que enterrou em betão o antigo cais das descobertas? Então não foram esses trabalhos que quase iam derrubando o Mosteiro ( houve tectos que cairam)com a trepidação contínua - 24/24 h - na cofragem?

     
  • At 4:17 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Ao anonymous das 11:57 pergunto se o Mosteiro é o dos Jerónimos. E felicito-me que, contra a política cultural do inculto doutor Cavaco, o melhor que se tenha a dizer é que o Mosteiro dos Jerónimos quase ia caindo com as muitas coisas que ele fez e de que ninguém gosta de falar. Se o ridiculo matasse, o Anonymous das 11:57 (eu sou o anterior) já estaria morto. Penso eu de que.

     
  • At 11:00 da manhã, Anonymous Anónimo said…

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