Pulo do Lobo

domingo, novembro 13, 2005

De Cavaco na Presidência

Muito boa gente continua a cometer o erro de avaliar os candidatos a estas eleições sob uma matriz passadista. Há que lembrar mais uma vez o que já toda a gente devia saber: o dr. Mário Soares não é o mesmo de há dez anos, o mesmo se passando com o prof. Cavaco Silva. Opinião pessoalíssima: o dr. Soares mudou para pior, o prof. Cavaco para melhor. Há ainda que destruir a ideia da Presidência da República como prémio de mérito democrático para políticos em fim de carreira. Para a Presidência da República devemos querer, como para qualquer cargo público, o melhor apto a desempenhar essas funções.

É por isso que apoio Cavaco Silva. Porque acredito que é o homem certo para os desafios dos próximos cinco anos, muito possivelmente dez. Porque é uma pessoa de pensamento realista e acção pragmática. Porque será, com toda a certeza, um promotor da estabilidade. Porque tem sentido de Estado. Porque não tem complexos políticos. Porque tem a sensibilidade necessária para medir o pulso à sociedade portuguesa. Porque quando exerceu cargos políticos mostrou ser um político profissional. E porque o ponto fraco que lhe tem sido exaustivamente apontado - saber de Economia, é ,a meu ver, uma enormíssima vantagem.

Vamos ser sensatos e sinceros: os grandes desafios que se põem a Portugal nos próximos anos são de índole económica. Portugal exibe, hoje em dia, uma democracia amadurecida e sólida. Ao longo das últimas duas décadas consolidámos uma cultura democrática responsável. Felgueiras é a excepção e não a regra. As questões estritamente políticas não são as que mais afligem o país.

Já no capítulo do desempenho económico do país existem motivos de profunda preocupação. Portugal não tem modelo de desenvolvimento. Tem uma cultura de ineficiência enraizada. Os esforços do Estado são desarticulados. E, crucialmente, estamos a perder uma das qualidades que temos enquanto povo: a receptividade à mudança. É preciso actuar com visão no longo-prazo e tenacidade no curto-prazo.

Não alimento ilusões: um presidente pouco pode fazer de concreto, e não será a sua eleição que, por si, nos vai colocar no caminho desejado. Mas acredito que existe um candidato capaz de transformar a cultura de intervenção do Presidente da República. Um candidato que acredita que um Presidente serve para mais do que discursos bem-intencionados e distribuição de condecorações. Porque um Presidente da República, independente das jogadas partidários, pode e deve ser o veículo por excelência dos grandes estímulos políticos. Espera-se que depois o Governo e a Assembleia façam a sua parte no campo legislativo.

Se tivermos um Presidente que não tenha por hobby atrapalhá-los, claro está.

3 Comments:

  • At 6:42 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Un simpatico Citroen BX, 17 D, blanco....

     
  • At 7:21 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Ao lê-lo, lembrei-me de um "exercício" de JPP, primeiro no Abrupto depois no Público, sobre os 50 momentos políticos mais importantes depois do 25 de Abril, e de cuja análise resulta bem claro o processo de amadurecimento da democracia em Portugal e o papel de Cavaco Silva nesse processo.

    Não sei se Cavaco Silva mudou, mas sei que nos mudou, aproximando-nos do nosso tempo.

    Rita Maltez

     
  • At 11:57 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Para si, C.Silva pode ser o melhor apto, para mim o mais apto não é ele, de certeza!
    E pela entrevista de hoje mais me convenci:
    Um "tecnocrata":
    -que salienta os grandes sucessos dos seus 10 anos de governo, sem referir os milhares de milhões que recebeu (e deixou esbanjar);
    -que aponta como grande "drama" a perda pelas nossas exportações de 17% do mercado alemão, olvidando a crise que varre toda a economia europeia, e principalmente essa;

    esse pode ser um bom "tecnocrata", um bom manipulador de números, mas será um bom "político" para Presidente?!
    Por estas e outras, não será o meu candidato!

     

Enviar um comentário

<< Home