Pulo do Lobo

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Um velho nem sempre é velho

A Constança escreve na "Sábado" sobre Mário Soares a pretexto de "velhos". Eu subscrevo todo o artigo. Até a frase nuclear que, lida ao contrário, justifica a recandidatura de Soares: os velhos "não podem candidatar-se contra ninguém". Daqui para diante, julgo que não vale a pena tratar Soares como um amaciador de roupa. Nenhum gesto de Soares é gratuito. Não existe, na sua candidatura, um mínimo de beatitude. Soares avançou por dois motivos eventualmente nobres mas que, até hoje, não "entram" na cabeça dos eleitores. O primeiro, digamos, o mais doméstico, consistiu em evitar a candidatura de um socialista "menor", Alegre, e a de um "centrista" suficientemente ambíguo para se tornar no candidato do PS "institucional", Freitas do Amaral. Como é sabido, Alegre avançou, Freitas amuou e Soares conseguiu a extraordinária proeza de dividir o eleitorado originário do seu partido. O segundo motivo, o mais obsessivo, chama-se Cavaco Silva. Não têm faltado provas disso. O curso da campanha propriamente dita mostra que Soares quer acabar como começou, ou seja, a agitar fantasmas e a levantar barricadas. Nunca foi outro o programa deste "jovem de espírito". É por isso que as imagens "ternurentas" de Soares não me impressionam. Parece que uma das dificuldades junto da opinião pública é, injustamente, a idade. Todavia eu não vou por aí. Soares está num combate político para ganhar ou perder e não propriamente num exercício manso para se tonificar. Nessa medida, deve ser combatido ou apoiado. Não há meio-termo nem palavras "bonitas", algo que ele jamais usaria em plena "acção". Porque Soares não "brinca", mesmo quando parece, "em serviço". O "velho" merece, como sempre mereceu, a minha admiração e o meu respeito. O candidato, desta vez, apenas podia ter a minha oposição.

2 Comments:

  • At 8:20 da tarde, Blogger Torquato da Luz said…

    Gostaria de subscrever este post, caro João Gonçalves. Além de muito bem escrito, diz exactamente o que pensei, depois de ler o texto de Constança.

     
  • At 8:31 da tarde, Blogger Nancy Brown said…

    excelente a sua frase "tratar Mário Soares" como um amaciador. concordo em absoluto com a sua análise. nada em Soares é por acaso e quando está em campanha é "verdadeiramente" para doer. nem quero imaginar o que a esquerda faria se Cavaco o tratasse por "ele", "ele", "ele", "ele". falta na candidatura de Cavaco o "sangue, suor e lágrimas" o que para os jornalistas seria bem mais interessante e bem menos melancólico.

     

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