Pulo do Lobo

sábado, janeiro 21, 2006

Fui ao Comício do Cavaco

Sendo hoje dia de reflexão, vou contar-vos o comício do Cavaco ontem à noite. Comício e reflexão são incompatíveis. Além disso, quando entrei no Metro apinhado de malta rumante à noite na Expo e tentei dizer aos dois herdeiros onde íamos, uma discreta mas incisiva pressão nas costelas acabou-me com a campanha: "Barracas é que não!" Esqueci o Cavaco, claro. Na minha família, as mulheres são sempre mais práticas.
Entrados no Atlântico, deparámos com várias bichas/filas/linhas humanas de orientação indefinida, correspondentes a outras tantas portas. A tranquilidade reinava (o povo cavaquista é sereno). Só havia dois problemas. Primeiro: ninguém sabia onde começava ou acabava cada uma das ditas. Segundo: para quem não participava no jantar, as portas só abriam às dez. Ficámos à espera no meio do já jantado povo cavaquista, enquanto o Pedro dizia que queria ver "o Cavaco Sílvia" e a Leonor perguntava pela porta que dava lá para baixo (nesta família as mulheres são sempre mais práticas). De guarda, alguns JSDs e respectivas JSDeias mostravam a sua vontade de trabalhar pelo futuro da pátria - despachando energicamente sucessivas cervejolas. Aí pelo quinto copo, perdão às dez em ponto, umas meninas com ar profissional, de certeza não pertencentes à JSD nem preocupadas com o futuro da pátria, abriram as portas. As bichas/filas laboriosamente esculpidas durante uma hora desvaneceram-se de imediato, e entrámos todos ao sereno molho.
Lá dentro, a luta de classes em versão cavaquista: o povo jantador estava em baixo e povo não jantador em cima. A Kátia Guerreiro subiu ao palco e os dois povos uniram-se. Bela voz, sim senhor. "Isto é que a outra não faz...", disse eu para quem quis ouvir. Um velhinho dado ao fado, mesmo atrás de nós, concordou em absoluto. O speaker falava em pátria, portugueses, Portugal de lés a lés, os nossos valores, os nossos filhos, pátria, portugueses, Portugal, os nossos valores... Lembrei-me, de repente, porque é que tinha deixado de ir a comícios.
Temi o pior quando o Tiago Bethencourt, dos Toranja, conseguiu pôr meio Atlântico a cantar aos berros "e a folha de papel é a minha bola de cristal/ onde te pinto nua/ nuuuuuuuuua/ numa chama/ minha e tuuuuuuuuua..." Mas não aconteceu nada a ninguém e, se acontecesse, o Prof. Lobo Antunes estava lá.
Seguiu-se a apoteose com a Isabel Silvestre: "Ó Rama ó que Linda Rama" entoado, com segunda voz e tudo, por vinte mil cavaquistas. Ainda pensei que muita gente não iria gostar porque o Cavaco não é alentejano, mas, quando vi o velhinho do fado eufórico, confesso que prometi a mim mesmo não ler o Mário Mesquita nem o Vital Moreira este Domingo.
Entretanto, o povo e o Pedro gritavam furiosamente "Cavaco à primeira", pressentindo o grand finale. A Leonor adormeceu ao meu colo (as mulheres da família são sempre mais práticas) e no fim falou o Cavaco. Mas isso já não posso contar porque estou em reflexão.

7 Comments:

  • At 4:45 da tarde, Blogger Tiago Geraldo said…

    Também lá estive, rodeado de eleitores do «Xô Professor Aníbal Cavaco Silva» (ai aquele Speaker..). Também temi o pior quando vi essa constelação de poderes mediúnicos à volta de uma folha de papel.
    Também temi que o Tiago Bettencourt prolongasse o discurso sobre «A política e o amor», mas não, foi conciso. ;)

    Abraço

     
  • At 5:57 da tarde, Blogger Ivo Rafael Silva said…

    Jerónimo encheu o pavilhão e ainda ficaram centenas cá fora... e Cavaco???

     
  • At 6:39 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    vindo de todo o Pais ,ivo silva?isso é batota!!

     
  • At 7:07 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    ..."encheu o pavilhão e ainda ficaram centenas cá fora"...
    O Manuel Alegre tem razão. Ainda existe medo...

     
  • At 8:11 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Acho que, com a enchente de que fala o Ivo, o Jerónimo vai mesmo ser o próximo PR...

     
  • At 4:54 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    This season on the PGA Tour, TaylorMade's staff players have used a mixture of the two drivers. accommodation But as Daly approaches his 41st birthday, he's determined to respond to his latest year of turbulence with an updated chapter to a career that began with a stunning, storybook triumph at the 1991 PGA Championship. As Daly was making his debut at the Buick, he learned his fourth wife, Sherrie, had reported to a Kentucky prison to serve a five-month sentence after pleading guilty to charges involving an illegal gambling and drug operation. I think Tiger has earned the right to skip any tournament, no questions asked.

     
  • At 11:28 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Where did you find it? Interesting read »

     

Enviar um comentário

<< Home