Declarações de Voto
Recta Final
por Carlos do Carmo Carapinha
por Carlos do Carmo Carapinha
“Anunciei a candidatura e fui visitar os emigrantes. Quando voltei tinha passado de pai da pátria a mau da fita”
Pouco há dizer sobre a corrida presidencial que não tenha já sido dito. Na noite em que Cavaco Silva anunciou a candidatura, foi dado o mote desta campanha quando Louçã aceitou comentar, para um canal de televisão, o discurso de Cavaco. Assim se caracterizou esta bizarra corrida presidencial: apenas um (verdadeiro) candidato, acompanhado à guitarra por três ou quatro pseudo-candidatos transfigurados em comentadores e sentenciadores de pacotilha. Apostados, claro está, em fazer ruído. Nada mais. Bem espremida, da alegre campanha se conclui que os candidatos de esquerda se limitaram a:
1) denegrir o passado de Cavaco (quem aqui chegasse pela primeira vez e os ouvisse, julgaria Cavaco um autocrata e um incompetente que tinha, no passado, conduzido o país à bancarrota);2) ridicularizar a austera figura de Cavaco;3) desferir sórdidos ataques ad homine a Cavaco;4) comentar o que dizia Cavaco.
Acima de tudo, os candidatos da bendita esquerda limitaram-se a disfarçar o vazio e a indigência das suas próprias propostas acusando Cavaco Silva de falar de assuntos indizíveis e estranhos a um presidente da república. Esta foi, aliás, a grande farsa desta campanha, protagonizada sobretudo por Soares e Louçã: à incapacidade destes para apontar um rumo ou uma estratégia de longo prazo para o país - sobretudo para além das suas mui queridas questões «fracturantes» e do empenho em cultivar um estilo «cosmopolita» e «moderno» que agradasse à sofisticada classe média urbana - juntou-se a vontade de deslegitimar quem o fizesse, através da acusação de intromissão em assuntos «tabu», leia-se «governativos». Como se falar da economia, do sistema nacional de saúde, do emprego ou da educação fosse assunto proibido para candidatos ou indiferente na aferição das suas propostas. No fundo, o que esta gente estava a dizer era mais ou menos isto: “nós, que somos importantes e fundamentais, propomo-nos para bibelot pois não temos opinião sobre nada”. Obviamente bullshit.
Mas importa falar de Soares. A frase em epígrafe, de sua autoria, diz praticamente tudo. Vem de longe a tendência de Soares em confundir a realidade pessoal da realidade objectiva. Ingenuamente, Soares estava convencido de que era o «pai da pátria» (ou, pelo menos, que o olhavam como tal). E ingenuamente, também, observou o desinteresse pela sua candidatura como um sinal de o terem passado a olhar como o «mau da fita» (segundo o próprio, até a comunicação social esteve metida na trama). Com este desabafo, Soares revelou estar fora do mundo. O facto de Soares não ter percebido que não detinha um estatuto que lhe permitia dizer e fazer tudo, e que a partir do momento em que se tornasse um «mero» candidato estaria, obviamente, ao mesmo «nível» dos outros, espelha bem a puerilidade aliada à soberba que habita há muito a mente do «senador». Mais: é incrível como Soares foi incapaz de perceber as repercussões do seu percurso político nos últimos anos. A ida para a «Europa», a viragem à esquerda, as birras públicas, a radicalização do seu discurso - pontuado de ressabiamentos políticos e assomos de cólera ideológica –, tudo concorreu para manchar indelevelmente a imagem de homem conciliador e moderado, reserva última da sua própria criação, isto é, da democracia portuguesa. Não foi por acaso que a campanha de Soares resultou numa coisa feia, sem norte, a espaços patética, que pôs a nu o desgaste mental (aparentemente não físico) de um candidato ancião e o velado desapego do próprio partido que formalmente o apoiou. Os pressupostos sempre estiveram errados. A realidade não era aquela que suponha. O próprio ex-compagnon de route, que se candidatou sobretudo contra Soares, beneficiou desta desorientação porque, de resto, Alegre, o poeta-político, pouco disse e nada acrescentou, a não ser uma meia dúzia de líricas alusões à «pátria» e à «língua». Ou muito me engano ou Soares acabará amargurado, cansado e, muito provavelmente, a julgar-se vitima da ingratidão dos «filhos» perante o «pai».
E o «rígido» Cavaco? Como político, Cavaco Silva não é propriamente uma figura «interessante». A «grande» sofisticação não mora ali. Também não se adivinham conversas de antologia sobre os mais apaixonados temas (Oakeshott, Scarlett Johanson, Francis Bacon, física quântica, etc.). Ou seja, dou de barato que Cavaco dá ares de ser aquilo a que comummente designamos de «chato» ou «cinzentão». Mas seria bom percebermos que o que faz falta não é animar a malta. Portugal não precisa de aparências nem de salamaleques. Muito menos de auto-estima. Portugal não precisa de líderes porreiraços, adeptos da bonomia e das suaves «influências». Portugal não precisa de malabaristas da palavra ou do «social». ». Não precisa de presidentes corta-fitas que se limitam a «chamar gente a Belém» quando qualquer coisa corre mal. Não, não estou a preconizar um sistema presidencialista. Estou apenas a dizer que o que faz falta é sacudir a malta, esbofetear a malta, chatear a malta.
Por detrás do estoicismo e da suposta inabilidade política de Cavaco Silva, esconde-se um homem sério (duma seriedade fatal para exercícios de retórica e de demagogia), adepto do rigor e da competência, empenhado e motivado em contribuir, dentro das limitações institucionais, para a reforma do país. Cavaco Silva foi, de longe, o candidato que melhor demonstrou saber o que está em causa. Cavaco mostrou estar totalmente consciente da realidade do país, fazendo por isso uma campanha centrada em questões concretas mas sempre pela positiva. Ficarei, por isso, mais descansado se souber que em Belém está um homem que, não se tendo resignado, está disposto a trabalhar. Ou, se quiserem, a «chatear».
Carlos do Carmo Carapinha
(aka MacGuffin)
Mas importa falar de Soares. A frase em epígrafe, de sua autoria, diz praticamente tudo. Vem de longe a tendência de Soares em confundir a realidade pessoal da realidade objectiva. Ingenuamente, Soares estava convencido de que era o «pai da pátria» (ou, pelo menos, que o olhavam como tal). E ingenuamente, também, observou o desinteresse pela sua candidatura como um sinal de o terem passado a olhar como o «mau da fita» (segundo o próprio, até a comunicação social esteve metida na trama). Com este desabafo, Soares revelou estar fora do mundo. O facto de Soares não ter percebido que não detinha um estatuto que lhe permitia dizer e fazer tudo, e que a partir do momento em que se tornasse um «mero» candidato estaria, obviamente, ao mesmo «nível» dos outros, espelha bem a puerilidade aliada à soberba que habita há muito a mente do «senador». Mais: é incrível como Soares foi incapaz de perceber as repercussões do seu percurso político nos últimos anos. A ida para a «Europa», a viragem à esquerda, as birras públicas, a radicalização do seu discurso - pontuado de ressabiamentos políticos e assomos de cólera ideológica –, tudo concorreu para manchar indelevelmente a imagem de homem conciliador e moderado, reserva última da sua própria criação, isto é, da democracia portuguesa. Não foi por acaso que a campanha de Soares resultou numa coisa feia, sem norte, a espaços patética, que pôs a nu o desgaste mental (aparentemente não físico) de um candidato ancião e o velado desapego do próprio partido que formalmente o apoiou. Os pressupostos sempre estiveram errados. A realidade não era aquela que suponha. O próprio ex-compagnon de route, que se candidatou sobretudo contra Soares, beneficiou desta desorientação porque, de resto, Alegre, o poeta-político, pouco disse e nada acrescentou, a não ser uma meia dúzia de líricas alusões à «pátria» e à «língua». Ou muito me engano ou Soares acabará amargurado, cansado e, muito provavelmente, a julgar-se vitima da ingratidão dos «filhos» perante o «pai».
E o «rígido» Cavaco? Como político, Cavaco Silva não é propriamente uma figura «interessante». A «grande» sofisticação não mora ali. Também não se adivinham conversas de antologia sobre os mais apaixonados temas (Oakeshott, Scarlett Johanson, Francis Bacon, física quântica, etc.). Ou seja, dou de barato que Cavaco dá ares de ser aquilo a que comummente designamos de «chato» ou «cinzentão». Mas seria bom percebermos que o que faz falta não é animar a malta. Portugal não precisa de aparências nem de salamaleques. Muito menos de auto-estima. Portugal não precisa de líderes porreiraços, adeptos da bonomia e das suaves «influências». Portugal não precisa de malabaristas da palavra ou do «social». ». Não precisa de presidentes corta-fitas que se limitam a «chamar gente a Belém» quando qualquer coisa corre mal. Não, não estou a preconizar um sistema presidencialista. Estou apenas a dizer que o que faz falta é sacudir a malta, esbofetear a malta, chatear a malta.
Por detrás do estoicismo e da suposta inabilidade política de Cavaco Silva, esconde-se um homem sério (duma seriedade fatal para exercícios de retórica e de demagogia), adepto do rigor e da competência, empenhado e motivado em contribuir, dentro das limitações institucionais, para a reforma do país. Cavaco Silva foi, de longe, o candidato que melhor demonstrou saber o que está em causa. Cavaco mostrou estar totalmente consciente da realidade do país, fazendo por isso uma campanha centrada em questões concretas mas sempre pela positiva. Ficarei, por isso, mais descansado se souber que em Belém está um homem que, não se tendo resignado, está disposto a trabalhar. Ou, se quiserem, a «chatear».
Carlos do Carmo Carapinha
9 Comments:
At 9:32 da tarde, Gonçalo Godinho e Santos said…
Só eu sei porque não fico em casa!
No próximo Domingo, Portugal vai a votos para eleger o nosso próximo Presidente. Para os jovens que hoje têm á volta de 20 anos, este vai ser o Presidente que nos vai acompanhar durante a entrada no mundo de trabalho, o Presidente do início da vida adulta, vai ser o nosso Presidente. Quando formos Domingo exercer o nosso dever e direiro de voto para a eleição do mais alto representante da Nação, não é só mais uma eleição. Esta é a Eleição! É a eleição do melhor português para representar Portugal.
Para esta eleição temos duas pessoas, dois estilos, duas personalidades. De um lado temos o "menino" de bem, que envelheceu mas não deixou de ser mimado. Faz birras, é trapalhão, anda sempre á procura da CHUCHA. Tem um ar bonacheirão, simpático, com uma certa piada, a imagem típica de um avô já reformado que gosta de mimar os netos. Soares é o avô que todas as crianças queriam ter...Em contraposição temos um homem com sentido e pose de Estado, credênciado em toda a Europa,"frio e duro", como Jerónimo Sousa constantemente refere acerca de Cavaco Silva, mas o que ele não consegue perceber é que no próximo Domingo não vamos votar em cremes quentes e suaves para o rosto, mas sim o nosso próximo Presidente.
"Eu não falo com vocês!" Diz Mário Soares aos jornalistas. Diz que estão do lado de Cavaco. Mas a razão da birra não é essa, a birra é por não estarem do lado dele.
Também não estão do lado de Cavaco. É ouvi-los na televisão a dizer que os jantares-comícios não estão cheios nas salas para 4 mil pagantes. É verdade se considerarem a cadeira de Cavaco vazia quando ele não lá está sentado. Logo de seguida mostram um jantar-comício gratuito de Soares para 500 pessoas. Casa Cheia!
Existe também uma certa irritação dos jornalistas e de Soares quando alguém do CDS-PP (sim, Dr. Soares, o CDS é o mesmo que o PP, e não, Dr. Soares, Ribeiro e Castro não é deputado do PS, é o presidente do CDS-PP) ou do PSD quando manifesta apoio a Cavaco. Sacrilégio!!! Não podem, não podem, não podem! Mas do outro lado vemos Sócrates e sua brigado do reumático a apelarem ao voto em Soares.( Estou para ver Soares a apelar o voto em si mesmo no dia das eleições...que hábito!)
Soares apela ao voto de toda a esquerda para derrubar Cavaco. Cavaco apela ao voto de todos os portugueses para um Portugal maior!
No próximo Domingo vamos todos votar em Cavaco Silva, vamos todos votar por Portugal!
Gonçalo Godinho e Santos
At 10:38 da manhã, FM said…
Por estes posts pode antever-se como seria um país com Cavaco na presidencia. Um país chato e chateado consigo próprio, de laranjinhas à solta sem qualquer respeito pelos outros.
Cavaco devia ler Eça. Acho-o parecido com o Conde de Abranhos. Na pose, na dimensão humana e na cultura. Um e outro são homens de Cultura!
At 10:39 da manhã, FM said…
Só depois de escrever o post verifiquei que precisam da aprovação do Webmaster...mais uma forma de antever Cavaco na presidencia! Censura e Cultura.
At 12:31 da tarde, jcd said…
Tem razão, Ovo de Colombo.
Pode sempre ir comentar o Super-Mario, lá não há aprovação de comentários.
At 5:03 da tarde, el s (pc) said…
Diz que quem chegasse aqui e ouvisse o s candidatos consideraria que:
1- denegrir o passado de Cavaco (quem aqui chegasse pela primeira vez e os ouvisse, julgaria Cavaco um autocrata e um incompetente que tinha, no passado, conduzido o país à bancarrota);
Pois bem, mas isso é verdade. A sua incompetência em 1979 levou a que Portugal entrasse em bancarrota, foram Mário Soares e o malogrado Mota Pinto (onde está essa ala do PSD, de gente séria e competente?) que tiveram a capacidade de nos tirar dessa situação.
Após a morte de Mota Pinto, Cavaco aproveitou-se das boas reformas deixadas para, por alguns anos cavalgar o sucesso que outros lhe deixaram. Está tudo escrito nos artigos de Teodora Cardoso.
At 12:17 da manhã, Harry Lime said…
Eu acredito que Cavaco silva (em quem eu não vou votar) possa vir a ser um bom presidente... um presidente cordato, não interveniente na governaçõa e um factor de unidade nacional.
Mas aqui levanta-se uma questão: é num presidente destes que o votante tipico cavaquista vai votar?
At 6:45 da tarde, ARD said…
No 2Super Mário" não há aprovação de comentários; em compensação não há comentários recusados ou apagados.
At 12:39 da manhã, zazie said…
«No 2Super Mário" não há aprovação de comentários; em compensação não há comentários recusados ou apagados.»
ora aqui está um brilhante raciocínio. Realmente se não te deixarem abrir a boca também não precisam de te corigir
":O)))
Conclusão:
é por estas e por outras que eu sou pela monarquia
At 1:38 da tarde, Anónimo said…
Grande declaração! Para assinar por baixo é aonde?
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