Pulo do Lobo

quarta-feira, dezembro 21, 2005

"Moderador e árbitro"?

Ontem à noite caiu a máscara do "moderador e árbitro". Soares portou-se como um candidato radical, incontinente e, em muitos momentos, malcriado e raramente, ou quase nunca, como um ex-chefe de Estado e aspirante credível ao cargo. Apesar da "pose" arrogante e do olhar de permanente comiseração intelectual perante "o camponês de Boliqueime", Soares deu ao país um triste espectáculo acerca daquilo que verdadeiramente o move. Estava tão embrenhado nessa acrobacia puramente agressiva que, no minuto final, onde podia "brilhar", se perdeu ao ponto de acabar ao nível de um cartão de Boas Festas com duas pernas e dois braços. Devemos - todos devemos - a Mário Soares o combate pela liberdade, antes e depois do 25 de Abril. A sua eleição em 1986, deveu-se essencialmente a essa memória e à noção de que era, naquela altura, o homem da "moderação" e do equilíbrio numa sociedade ainda não completamente "bem resolvida" em matéria de densidade democrática e a iniciar a sua caminhada europeia. Soares fez, como também nos lembramos, dois mandatos perfeitamente distintos. No primeiro, tratou de "segurar" a reeleição e, para o efeito, de "segurar" os governos de Cavaco. No segundo, reconhecendo a impotência do seu partido para fazer frente exclusiva ao então primeiro-ministro maioritário, "conspirou" metodicamente em Belém para o remover. Até nisso não foi bem sucedido, já que Cavaco se removeu por si mesmo. No cômputo, Soares foi um bom presidente e honrou e magistratura, uma vez que as peripécias de pequena e baixa política que urdiu a partir de Belém, não contam na avaliação do "homem médio". Esta última aventura teria sido perfeitamente desnecessária não fosse a imensa vaidade do homem e a posição timorata do PS em relação às presidenciais onde teve, à vontade, uma boa meia dúzia de escolhas. Soares imaginou, a partir do Vau, que uma "onda" o esperava e que o país, comovido, ansiava pelo seu majestático regresso. Nem uma coisa nem a outra se verificaram. O eleitorado dito "moderado", que o salvou há 20 anos, ficou perfeitamente esclarecido com o debate contra Cavaco. Se já andava desconfiado, ontem fugiu-lhe de vez. Penso não andar longe da verdade ao dizer que Mário Soares entregou ontem à noite a vitória, de mão beijada e numa única "volta", a Cavaco Silva. Ninguém de boa-fé e no seu prefeito juízo reconheceu no Soares de ontem uma mísera sombra do "moderador e árbitro" que ele se imagina. Por mera caridade cristã, alguém amigo dele faça o favor de lho explicar.

8 Comments:

  • At 12:10 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    O debate foi o que se estaria à espera. Em vez de se falar dos problemas dos portugueses, do papel da instituição presidencial, de cidadania, do futuro, tudo se perdeu na maré de ataque pessoal e tentativa de rebaixamento. Curioso este Mário Soares. Quando Cavaco fazia afirmações de exigência, que um presidente deve ter conhecimentos técnicos sólidos, conhecer os dossiers em que é chamado a pronunciar-se, Soares fazia aquele ar ofendido: “mas o que é que está a insinuar?”, como quem diz “está a dizer que eu não conheço os dossiers”. E no entanto, o ex-presidente não perdeu oportunidade para fazer toda a espécie de insinuações e mesmo ataques insultuosos.
    Se tenho críticas a fazer à prestação de Cavaco Silva é a de ter sido demasiado brando nas suas respostas. Estranha ironia, que aquilo que torna Cavaco fraco a debater são as mesmas qualidades que o tornam um homem superior.
    Soares mostrou aquilo que é: um homem arrogante que pisca o olho aos jornalistas com aquele ar de pai da pátria. “Um presidente tem de saber dialogar, tem de saber ouvir”. Exactamente as qualidades que lhe estiveram ausentes no debate. Afirmou que a candidatura de Cavaco Silva é motivada por um desejo de vingança, por não ter sido eleito presidente no passado. E no entanto, é em Soares que vemos a linguagem da vingança e do ressentimento; demonstrando em pleno como é a sua própria candidatura aquela que tem como principal, se não único conteúdo, o ataque pessoal e o ressentimento com o passado.
    Muito divertido, mas lamentável, o ataque de Soares à personalidade do seu opositor. Que dizer? Lamentar então que Cavaco não tenha sido suficientemente afável com os amiguinhos de Soares em Bruxelas. Foi, na resposta, o momento mais brilhante de Cavaco. Fez bem não ter dito mais, e confesso que eu não me teria contido de o rebaixar ali mesmo pela indignidade das suas afirmações.
    Em conclusão, não sei o que é mais urgente: eleger Cavaco Silva ou derrotar este Mário Soares. Pela primeira vez senti-o, que com qualquer dos outros candidatos serei um português tranquilo, mas com Soares em Belém, olhe que não, olhe que não!

     
  • At 2:10 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Como se diz na "província", Soares revelou a sua verdadeira face de "político pantomineiro".

    Não passou do ditoche provocador, da atoarda gratuita, da insinuação rasteira, do despudor narcisista. Da ordinarice descarada. Enfim, o exemplo acabado do tipo de "homem-político" que o povo anónimo abomina.

    Cavaco pecou por não lhe ter respondido, no mínimo "presunção e água benta..." e, no limite, "olhe a figura que está a fazer que há pessoas em casa a ver isto".

    Por muito cuidadas que sejam as estratégias eleitorais, também não quero um presidente que faça figuras de "banana" ao ponto de ser insultado por um qualquer ordinário.

    Perdeu-se uma boa oportunidade para ter colocado o Dr. Soares no seu sítio. Nunca, como ontem, ele se estendeu tanto e se colocou tanto ao jeito.

    Mas isto é um provinciano a pensar em voz alta...

    Se fores o João Gonçalves que penso, recebe um abraço do carneiro (se não for, receba na mesma. É Natal).

     
  • At 2:15 da tarde, Blogger Torquato da Luz said…

    Mal findou o debate - que afundou definitivamente Soares -, apressaram-se os "comentadores" do costume: ele "vencera" e Cavaco fora "derrotado".
    Uma Comunicação Social que, deste modo abjecto, nega a evidência não merece tal nome. As pessoas viram e não são estúpidas, caramba!
    Será que, na noite de 22 de Janeiro, esses "comentadores" vão dizer que se enganaram? Que ideia!Eles vão mas é insinuar que o povo se enganou, como é seu hábito "democrático"...

     
  • At 2:49 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    "...não sei o que é mais urgente: eleger Cavaco Silva ou derrotar este Mário Soares."

    Ambas as coisas. Mas, eleger Cavaco Silva derrotando ao mesmo tempo Mário Soares dá MUITO mais gozo. Ainda bem que o "bochechas" se candidatou.

    Soares não tem ponta por onde se lhe pegue. Só numa democracia onde as dependências proliferam é que este personagem tem o poder que tem. Em qualquer democracia em que a Justiça funcionasse, este "Padrinho" tinha que prestar contas por Macau, pela Fundação Mário Soares, e pelos financiamentos obscuros a que recorreu em toda a sua carreira política.

    E se focarmos a sua personalidade, então é bom nem falar. Conheço pessoas que trabalharam com ele(eu, felizmente, não tive esse azar) e posso dizer que é absolutamente intragável. Desde os modos à mesa, até ao trato com as outras pessoas longe das câmaras de televisão, o homem é um autêntico labrêgo. Como político é um bluff, mas como pessoa ainda é pior. E deixa descendência à "altura". O João Soares em modos é da mesma "delicadeza". Safa!

     
  • At 3:35 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Caramba...
    Não há fome que não dê em fartura.
    O "bochechas" sempre foi assim, por isso, não há que ficar admirado. Mais quem não o conhecia, que o comprasse.

     
  • At 4:03 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    A 'sondagem-relãmpago' promovida pela SIC Notícias dá a vitória a Mário Soares, por escassa margem. Mas o que ela tem de curioso é que a % de respostas Não viu/Não sabe/Não responde atinge os 51%...
    Palavras para quê? Os dados estão lançados...
    Discordo de um comentário dizendo que Soares perdeu as eleições com o debate.
    Quanto a mim, quando ele entrou nos estúdios da SIC, já as tinha perdido há muito tempo...

    Vitor Correia

     
  • At 5:50 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    http://semrodeios.blogspot.com/

     
  • At 6:41 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    «[Soares] Extraordinário. No seu melhor, não há dúvida. Goste-se ou não, o "debate" entre Cavaco e Soares resultou naquilo que os conhecedores de ambos já sabiam de antemão: Soares, potencial vencedor à "partida", foi vencedor durante a "corrida" e à "chegada". A "velha raposa" da política, o "elefante político" está tão bom como nos melhores tempos. Cavaco escumou pelos cantos da boca, como era previsível. Não conseguiu esconder a sua faceta algo salazarenta como Soares quis que ficasse como imagem do seu adversário.»
    A.Nascimento

     

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