Com voz embargada e um espírito trémulo e devassado vos comunico, meus amigos, que Cavaco Silva desceu vertigionosamente nas sondagens. Dos 61% passa, oh assombro fatal, para os 60,2%.
Caro António Amaral, A percentagem de certeza de voto em Cavaco (91%) é superior a qualquer dos outros candidatos. Não sei se os outros 9% não votarão mesmo Cavaco, não votar ou se poderão transferir o voto para outro candidato. É difícil que as eleições se saldem em números tão generosos, mas entre 60% e 54% os efeitos práticos são os mesmos.
Os socialistas têm uma relação muito especial com os números e uma maneira muito particular de ver a realidade.
A título de exemplo, cito um dirigente socialista da Madeira que, nas ultimas eleições autárquicas, comentou os resultados eleitorais do PS da seguinte maneira: «O PS não perdeu nenhuma Câmara, porque não tinha nenhuma Câmara para perder, apenas não ganhou ...»
Só para rir um pouco... seguindo a mesma lógica(?): Soares: 14% * 75% = 10,55%
Admitindo (ou tendo a certeza?) que a restante campanha não trará ainda grandes surpresas, e pesando a colagem dos indecisos ao provável vencedor... é uma vitória fazer o candidato Cavaco Silva aproximar-se perigosamente dos 54%! e dos 10,55% a diferença já é só de 43,45%!!!! Belas e optimistas contas.
1986-1995: Dez anos ímpares da economia portuguesa (III)
Uma área fundamental para aferir da “saúde” de uma economia – e, nomeadamente, da sua competitividade – é a das suas contas externas. Afinal, se, por exemplo, um país regista consecutivamente défices elevados durante um período de tempo, tal acaba por se reflectir na evolução da economia: ter défices significa que houve endividamento, e chega uma hora em que é preciso pagar essas dívidas, restando, por isso menos recursos para consumir e investir. Ora, também nesta área, a década de 1986 a 1995 foi o período que, indubitavelmente, melhor comportamento registou na história recente (desde 1980) da economia portuguesa.
De facto, o défice corrente médio registado nesse período (1.5% do PIB) é, de longe, o mais baixo de entre todos os períodos considerados – tendo Portugal apresentado mesmo nesses dez anos, um défice externo mais pequeno do que o de Espanha. Já entre 1996 e 2001, fruto · da perda de instrumentos clássicos de política económica (como a política monetária e a política cambial, que no passado ajudavam a repor, ainda que artificialmente, a nossa competitividade), por força da adesão à moeda única europeia; e · da forte descida das taxas de juro no processo de adesão ao euro, que resultou numa verdadeira explosão da procura interna (sobretudo do consumo), sem o correspondente aumento da produtividade, em resultado da falta de preparação da nossa economia para aderir a essa mesma moeda única; assistiu-se a uma fortíssima deterioração do nosso défice corrente que, em 2000 e 2001, esteve mesmo perto dos valores registados no início da década de 80 e que motivaram, na altura, a intervenção do FMI (o que, por força da nossa participação no euro, agora não aconteceu). A evolução das exportações de bens e serviços vai no mesmo sentido, com a excepção de o período 1980-1985 ter registado um melhor desempenho do sector exportador (8.8% contra 7.8%).
Contudo, não deve ser esquecido que o resultado desse conjunto de anos foi bastante influenciado pela forte desvalorização do escudo, ocorrida aquando da intervenção do FMI em 1983, e que motivou um crescimento extraordinário das exportações em 1983 e 1984. Mesmo assim, sem ocorrências deste género, as exportações cresceram, entre 1986 e 1995 a um ritmo médio anual de 7.8%, registo que, dos países em análise, só foi ultrapassado pela Irlanda. Depois, entre 1996 e 2001, quando as exportações de Espanha, Irlanda e Grécia cresceram a um ritmo médio anual bem superior ao de 1986-1995, começaram a tornar-se visíveis os nossos problemas de competitividade, que a entrada no euro haveria de colocar “a nu”, o que levou a que as nossas exportações nunca mais tivessem tido o comportamento dinâmico que anteriormente tinham manifestado. Enfim, por tudo o que expus nestes artigos, julgo que não é difícil concluir que os dez anos de governação de Cavaco Silva como Primeiro-Ministro constituíram o período mais positivo e também mais “saudável” da história recente da economia portuguesa. Infelizmente, como os diferentes indicadores apresentados confirmam, esse rumo não foi mantido após 1995 – e os resultados são os que se conhecem. Portanto, quando se recrimina Cavaco Silva de ser o “pai” do défice, de ser despesista, e de ser o grande causador da situação económica que atravessamos, tais acusações só poderão vir da parte de quem tiver estado menos atento à evolução recente da nossa economia, ou de quem não possuir conhecimentos mínimos de economia, ou ainda... de quem não estiver de boa fé... E claro, pelo que foi exposto ao longo da análise, parece-me evidente que Portugal só terá a ganhar se eleger no próximo dia 22 de Janeiro, o Prof. Cavaco Silva como Presidente da República. Dezembro 22, 2005
7 Comments:
At 9:39 da tarde, Anónimo said…
Grão a grão...
Cavaco vai perder, não sejam arrogantes!
At 9:44 da tarde, Anónimo said…
Acho que essa descida do Prof. Cavaco Silva é verdadeiramente alarmante.
Espero que o dr. Soares não deixe de a glosar, como merece.
At 12:17 da manhã, AA said…
Caro Tiago Geraldo,
Em resposta a comentário de um colega que dizia isso, apontei que no DN cerca de 91% das pessoas que votam Cavaco não pensam mudar o sentido de voto.
Ora, 90%x60% = 54%
É isto que conta.
At 1:01 da manhã, Tiago Geraldo said…
Caro António Amaral,
A percentagem de certeza de voto em Cavaco (91%) é superior a qualquer dos outros candidatos. Não sei se os outros 9% não votarão mesmo Cavaco, não votar ou se poderão transferir o voto para outro candidato. É difícil que as eleições se saldem em números tão generosos, mas entre 60% e 54% os efeitos práticos são os mesmos.
É isso que conta.
Cumprimentos,
At 11:39 da manhã, Ra said…
Os socialistas têm uma relação muito especial com os números e uma maneira muito particular de ver a realidade.
A título de exemplo, cito um dirigente socialista da Madeira que, nas ultimas eleições autárquicas, comentou os resultados eleitorais do PS da seguinte maneira: «O PS não perdeu nenhuma Câmara, porque não tinha nenhuma Câmara para perder, apenas não ganhou ...»
At 12:28 da tarde, Anónimo said…
Só para rir um pouco... seguindo a mesma lógica(?):
Soares: 14% * 75% = 10,55%
Admitindo (ou tendo a certeza?) que a restante campanha não trará ainda grandes surpresas, e pesando a colagem dos indecisos ao provável vencedor...
é uma vitória fazer o candidato Cavaco Silva aproximar-se perigosamente dos 54%!
e dos 10,55% a diferença já é só de 43,45%!!!!
Belas e optimistas contas.
At 1:07 da tarde, Anónimo said…
1986-1995: Dez anos ímpares da economia portuguesa (III)
Uma área fundamental para aferir da “saúde” de uma economia – e, nomeadamente, da sua competitividade – é a das suas contas externas. Afinal, se, por exemplo, um país regista consecutivamente défices elevados durante um período de tempo, tal acaba por se reflectir na evolução da economia: ter défices significa que houve endividamento, e chega uma hora em que é preciso pagar essas dívidas, restando, por isso menos recursos para consumir e investir. Ora, também nesta área, a década de 1986 a 1995 foi o período que, indubitavelmente, melhor comportamento registou na história recente (desde 1980) da economia portuguesa.
De facto, o défice corrente médio registado nesse período (1.5% do PIB) é, de longe, o mais baixo de entre todos os períodos considerados – tendo Portugal apresentado mesmo nesses dez anos, um défice externo mais pequeno do que o de Espanha. Já entre 1996 e 2001, fruto · da perda de instrumentos clássicos de política económica (como a política monetária e a política cambial, que no passado ajudavam a repor, ainda que artificialmente, a nossa competitividade), por força da adesão à moeda única europeia; e · da forte descida das taxas de juro no processo de adesão ao euro, que resultou numa verdadeira explosão da procura interna (sobretudo do consumo), sem o correspondente aumento da produtividade, em resultado da falta de preparação da nossa economia para aderir a essa mesma moeda única; assistiu-se a uma fortíssima deterioração do nosso défice corrente que, em 2000 e 2001, esteve mesmo perto dos valores registados no início da década de 80 e que motivaram, na altura, a intervenção do FMI (o que, por força da nossa participação no euro, agora não aconteceu). A evolução das exportações de bens e serviços vai no mesmo sentido, com a excepção de o período 1980-1985 ter registado um melhor desempenho do sector exportador (8.8% contra 7.8%).
Contudo, não deve ser esquecido que o resultado desse conjunto de anos foi bastante influenciado pela forte desvalorização do escudo, ocorrida aquando da intervenção do FMI em 1983, e que motivou um crescimento extraordinário das exportações em 1983 e 1984. Mesmo assim, sem ocorrências deste género, as exportações cresceram, entre 1986 e 1995 a um ritmo médio anual de 7.8%, registo que, dos países em análise, só foi ultrapassado pela Irlanda. Depois, entre 1996 e 2001, quando as exportações de Espanha, Irlanda e Grécia cresceram a um ritmo médio anual bem superior ao de 1986-1995, começaram a tornar-se visíveis os nossos problemas de competitividade, que a entrada no euro haveria de colocar “a nu”, o que levou a que as nossas exportações nunca mais tivessem tido o comportamento dinâmico que anteriormente tinham manifestado. Enfim, por tudo o que expus nestes artigos, julgo que não é difícil concluir que os dez anos de governação de Cavaco Silva como Primeiro-Ministro constituíram o período mais positivo e também mais “saudável” da história recente da economia portuguesa. Infelizmente, como os diferentes indicadores apresentados confirmam, esse rumo não foi mantido após 1995 – e os resultados são os que se conhecem. Portanto, quando se recrimina Cavaco Silva de ser o “pai” do défice, de ser despesista, e de ser o grande causador da situação económica que atravessamos, tais acusações só poderão vir da parte de quem tiver estado menos atento à evolução recente da nossa economia, ou de quem não possuir conhecimentos mínimos de economia, ou ainda... de quem não estiver de boa fé... E claro, pelo que foi exposto ao longo da análise, parece-me evidente que Portugal só terá a ganhar se eleger no próximo dia 22 de Janeiro, o Prof. Cavaco Silva como Presidente da República. Dezembro 22, 2005
posted by Miguel Frasquilho
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