Pulo do Lobo

quinta-feira, novembro 10, 2005

O humanismo e a canelada

Lembro-me que, por altura das maiorias absolutas, pouca gente se atrevia a dizer que tinha votado em Cavaco, particularmente depois da última, em 1991. Começava aí um segundo mandato presidencial de Mário Soares destinado, no essencial, a "abater" o então primeiro-ministro. Numa entrevista à RTP, em 94, Soares chegou mesmo a afirmar que as maiorias absolutas não eram "saudáveis", um precedente curioso para quem está agora "de alma e coração" com Sócrates. O recurso à estigmatização e à menorização de Cavaco Silva e dos seus apoiantes, vai ser uma constante desta campanha. A sua emergência como candidato presidencial potencialmente vencedor, desencadeará as mais descerebradas reacções. Justamente por se intuir (o país intui) que a estabilidade da actual maioria - cuja legislatura deve ser integralmente cumprida -, está mais próximo de ser garantida por Cavaco do que pelo fundador do PS. Ontem, directamente do seu trágico labirinto, Soares inventou que a campanha presidencial - em que ele tem andado mais ou menos por aí a falar sozinho - anda "armadilhada" e disse aos jornalistas para "investigarem". Este género de argumentário - a que se junta o já enjoativo do "técnico de finanças"-, na altura tão criticado, e bem, por Soares, foi muito utilizado por um candidato a primeiro-ministro, em Fevereiro último, com os resultados que conhecemos. Tudo será feito para abalar a imagem de segurança, de confiança e de integridade que os portugueses reconhecem em Cavaco Silva. Em boa verdade, não há "humanismo" que resista a uma boa canelada.

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