Pulo do Lobo

quarta-feira, novembro 09, 2005

Credibilidade

Passaram mais de vinte anos sobre a mais célebre rodagem de um automóvel feita até hoje em Portugal. No Casino da Figueira da Foz, local de paragem desse automóvel, a figura esquálida do seu proprietário impôs-se à canzoada “laranja” em busca de um chefe. Meses depois, em Outubro, o praticamente desconhecido professor de economia – uma “característica” que, com laivos de demência, lhe é quase diariamente atirada à cara como “defeito”- conquistava o lugar de primeiro-ministro. Seguiram-se duas maiorias absolutas que, para o melhor e para o pior, mudaram a “vida material” do país. Sem pergaminhos “históricos” na “luta” pela democracia, arrostando com o ódio de classe da “esquerda caviar” e da “direita colorida”, Cavaco Silva domesticou ambas durante dez anos. Tinha a seu crédito um perfil de autoridade irrepreensível, sustentada no voto popular maioritário, algo que a democracia portuguesa ainda não tinha experimentado. No final da década, agastado com o nepotismo partidário que floresceu à sua volta, foi-se embora. Os honrosos quarenta e seis por cento que obteve nas presidenciais contra Sampaio, em 1996, representaram a gratidão possível num território, a política, onde ela é quase sempre “letra morta”. Neste momento, Cavaco está a uns escassos dois meses e meio de ser eleito Presidente da República. No poder e fora dele, aprendeu. Quando chegou à Figueira da Foz era uma espécie de “anti-político”. Hoje é um dos poucos políticos com a seriedade e o prestígio imaculados. E é tão ou mais “profissional” nesse exercício do que muitos que sempre fizeram dele profissão. Goza de uma rara respeitabilidade geral que meia dúzia de lugares-comuns idiotas e recorrentes não chegam a ferir. Tem a vantagem, sobre os seus adversários e inimigos, de se apresentar por qualquer coisa. Tudo, no entanto, lhe será apresentado à laia de “factura”, como se tem vindo a perceber. Não deixarão de lhe apontar as “amizades”, os “apoios” e o “passado”, em nome de um “combate ideológico” anacrónico no qual o país não está minimamente interessado. Apesar de Sócrates, os “sinais” mostram que a vida pública permanece deficitária de uma austera credibilidade democrática. A hipótese presidencial de Cavaco é único lance seguro para a garantir.

1 Comments:

  • At 3:06 da tarde, Blogger juiz de barrelas said…

    Caro João Gonçalves, apesar de concordar com os factos seu comentário e quer que Cavaco seja o próximo PR, deixe-me dizer-lhe que o mesmo não posso dizer relativamente à forma como o expôs.
    A menos que seja veterinário e a escrita ter ficado irremediavelmente presa ao quotidiano profissional, ou nutra um qualquer recalcamento animal, a forma abusiva como usa e abusa de termos como "canzoada laranja", "Cavaco Silva domesticou ambas",..., é questionável.

    Lamento inclui-lo no canil e que Cavaco vença na primeira volta de forma esmagadora, são os meus votos

     

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